MEMÓRIAS DE UM BRONZE


A seleção masculina de basquete, que conquistou a primeira medalha olímpica do Brasil em esportes coletivos - Arquivo CBB


Os Jogos de Londres-1948 marcaram também a primeira medalha brasileira em esportes coletivos: o bronze no basquete masculino, numa verdadeira epopeia desde a viagem para a capital inglesa, que ainda está presente na memória do único integrante daquele grupo de dez jogadores ainda vivo: o ex-pivô Alberto Marson, que mora em São José dos Campos, no interior de São Paulo. Aos 91 anos, ele é o mais antigo medalhista brasileiro, e relembrou em conversa com o GLOBO alguns momentos da campanha que marcaria sua vida.
Por contenção de gastos, segundo Marson, o time brasileiro comandado por Moacyr Daiuto foi para os Jogos com apenas dez jogadores, e não os 12 habituais de um elenco completo. Sem um avião com autonomia de voo para fazer a viagem de uma vez só, houve várias escalas: depois da partida do Rio, o grupo parou primeiro em Natal, depois cruzou o Oceano Atlântico até Dacar, no Senegal, para fazer ainda uma última parada em Lisboa antes de chegar a Londres, levando mais de dois dias até o destino final.
Prática daquela primeira edição dos Jogos após a Segunda Guerra, o time brasileiro de basquete se hospedou em instalações militares.
— A ida foi um sufoco. O avião era bom, mas fomos recebidos por uma enorme tempestade em Dacar. O lugar onde nós ficamos era fora de Londres, distante 80km do ginásio onde a gente jogava. Não tinha como treinar no lugar onde estávamos hospedados porque não havia um piso próprio para basquete — recorda Marson. — Era um grande gramado além dos alojamentos. E uma grama em péssimo estado. Dois jogadores do nosso time chegaram a torcer o pé em um dos vários buracos da grama e perderam alguns jogos da Olimpíada.
Segundo o ex-pivô brasileiro, um dos desafios era o completo desconhecimento dos times adversários. A maioria das seleções nunca tinha visto qualquer jogo dos rivais. Assim, o Brasil começou com duas vitórias em partidas muito parelhas: a estreia foi um 45 a 41 sobre a Hungria. Em seguida, enfrentou o Uruguai, conhecido do time brasileiro, e que chegou como favorito por ser o atual campeão sul-americano. Mas a vitória ficou com o Brasil, por 36 a 32.
Na sequência, a partida mais fácil, um massacre de 76 a 11 no time da casa, a Inglaterra, que tinha “um basquete muito vagabundo” na época, nas palavras de Marson. O Brasil ainda teria boas vitórias sobre Canadá (57 a 35) e Itália (47 a 13) para fechar a primeira fase de forma invicta.
Nas quartas de final, os brasileiros se viram diante de uma pedreira: a Tchecoslováquia, então campeã europeia. Num jogo em que as defesas prevaleceram, o Brasil venceu por 28 a 23, garantindo a ida para as semifinais e vendo a medalha ficar mais perto.
O sonho de chegar à decisão caiu diante dos franceses, por 43 a 33, mas a medalha de bronze foi conquistada com a vitória sobre o México, por 52 a 47. O país não subia ao pódio olímpico desde os Jogos de 1920, quando a equipe de tiro voltou de Antuérpia com três medalhas. Na época, a televisão nem sequer havia chegado ao Brasil, muito menos as transmissões transoceânicas ao vivo, mas Marson lembra que a repercussão da épica conquista foi grande.

— Fomos muito bem recebidos tanto em São Paulo quanto no Rio. Tivemos um reconhecimento muito bom, principalmente dos que lidavam com o basquete — conta o ex-jogador, que dá lição de humildade ao ser instado a falar sobre o fato de ser o mais velho medalhista brasileiro vivo. — Não tenho essa coisa toda do orgulho, não alimento. É normal. Meus companheiros não estão mais aqui, infelizmente. Não mantive contato com a maioria ao longo dos anos. Coisas da vida.



Piedade Coutinho, à direita, terminou em quarto nos 400 m livres - Acervo




Além de Alberto Marson, o time do basquete brasileiro bronze em 1948 tinha Ruy, Vinicius, Alexandre, Brás, Massinet, Alfredo, Algodão, Évora e Pacheco. Foi a única medalha do país naquela edição, mas também houve outros destaques na delegação.
Londres-1948 marcou o início da enorme tradição brasileira no salto triplo. Geraldo de Oliveira acabou aquela competição no 5º lugar, perto do pódio. Hélio Coutinho da Silva foi o 11º. A grande estrela do país nesta prova também fez sua estreia olímpica: Adhemar Ferreira da Silva, então com 21 anos, terminou na oitava colocação. Nas duas edições seguintes, ele seria bicampeão olímpico.
Mas Adhemar já era um fenômeno à época: se tivesse repetido o salto que lhe dera o índice para Londres (15,03 m), teria garantido a medalha de bronze na Olimpíada. Mas saltou “apenas” 14,49 m. No boxe, o destaque foi Ralph Zumbano, que ficou em quinto no peso leve.

Em uma delegação de 81 atletas, 11 deles mulheres, a nadadora Piedade Coutinho também se destacou, ao terminar em quarto nos 400m livre. Ela ainda integrou a equipe que ficou em sexto no revezamento 4 x 100 m livre. O Brasil terminaria a edição dos Jogos na 34ª colocação geral.