As provas de atletismo tiveram grande público na capital britânica - Acervo
O mais traumático conflito do século 20 afetou o esporte. A suspensão das duas edições dos Jogos Olímpicos que deveriam ter acontecido em 1940 e 1944, em plena Segunda Guerra Mundial, representou o maior intervalo entre Olimpíadas até hoje, e deu novo significado ao maior evento esportivo do mundo.
Quando foram retomados, os Jogos ampliaram sua projeção na geopolítica mundial. Ao mesmo tempo em que ajudava países a se reerguer e reforçava o discurso do evento como oportunidade de congraçamento entre as nações, o Comitê Olímpico Internacional (COI) empreendia um movimento de expansão de sua menina dos olhos.
Até Berlim-1936, de um total de 11 edições, apenas duas vezes as Olimpíadas haviam saído da Europa — e ambas para os Estados Unidos, em Saint Louis-1904 e Los Angeles-1932. Nas cinco edições seguintes à Segunda Guerra, os Jogos chegaram a dois novos continentes: Oceania, com Melbourne-1956, e Ásia, com Tóquio-1964. Abranger o globo era objetivo claro dos dirigentes da entidade. E o esporte foi pela primeira vez ao hemisfério sul.
A votação que elegeu Melbourne sede de 1956 foi vencida pela cidade australiana com apenas um voto de vantagem em relação a Buenos Aires, capital da Argentina. A Olimpíada na América do Sul seria adiada por 60 anos até que finalmente encontre o continente em 5 de agosto deste ano, com os Jogos do Rio.
No pós-guerra, porém, a urgência era atender a um dos países mais destruídos. Ainda em 1939, quando a Segunda Guerra era incipiente, o COI havia escolhido Londres como sede dos Jogos de 1944, que acabaram não acontecendo. Duramente bombardeada pela força aérea nazista, a capital britânica receberia a edição de 1948, a exemplo do que já havia acontecido em 1920, logo após a Primeira Guerra Mundial, quando a belga Antuérpia, também destroçada nos confrontos, foi alçada a sede olímpica. Não eram apenas as estruturas físicas de Londres que estavam em frangalhos; economicamente, a Grã-Bretanha também estava destruída. Ainda assim, com organização e otimização dos recursos, os Jogos foram realizados satisfatoriamente e deixaram marca na história.
A solenidade de acendimento da pira olímpica em Londres, em 1948 - Arquivo
Olhando de forma retrospectiva, os Jogos Olímpicos entraram numa fase de relativa calmaria, com edições realizadas sem grandes problemas nas décadas seguintes. Em 1952, Helsinque, capital finlandesa com menos de 400 mil habitantes, tornou-se a menor cidade a receber uma edição das Olimpíadas de verão. Assim como aconteceu com Londres, foi uma forma de corrigir um erro histórico, uma vez que a capital finlandesa já havia se preparado para receber a competição. O Estádio Olímpico em que brilhou Adhemar Ferreira da Silva começou a ser construído em 1934 e foi concluído quatro anos mais tarde.
Em Melbourne-1956, houve pela primeira vez desistência de alguns países, por questões políticas. A invasão soviética na Hungria levou Espanha, Holanda e Suíça a não enviarem seus atletas — mesmo com a capital tomada por Nikita Kruschev, os húngaros foram à Olimpíada. Já Egito, Iraque e Líbano não participaram dos Jogos em protesto pela presença de tropas francesas no canal egípcio de Suez. Nada comparável, porém, aos grandes boicotes que marcariam Moscou-1980 e Los Angeles-1984.
A ida dos Jogos para Roma, em 1960, já deveria ter acontecido 52 anos antes, mas, daquela vez, não foi uma guerra que impediu as competições: uma erupção do vulcão Vesúvio, em Nápoles, em 1906, dois anos antes da disputa, mudou as prioridades das autoridades, que concentraram esforços e dinheiro na recuperação da cidade. Foi uma forma de o mundo fazer as pazes com um dos membros do Eixo que apoiou a campanha de Hitler.
Em Tóquio, quase 20 anos depois do fim da Segunda Guerra, suas marcas ainda eram presentes. Por isso, foi uma dupla oportunidade de reparação: na abertura, a pira olímpica acesa por um estudante nascido em Hiroshima no dia que caiu a bomba atômica, em 1945, tinha o peso simbólico perfeito dos Jogos Olímpicos como condutores da paz mundial. Além disso, Tóquio tinha direito de sediar os Jogos, já que a cidade estava escolhida para receber a edição de 1940, a primeira cancelada pela Segunda Guerra. A eficiência e a organização japonesas fizeram a diferença, solidificando sua reputação no mundo.