Período: 17 de setembro a 02 de outubro de 1988.
Número de Países: 159.
Número de Atletas: 8391, sendo 2194 mulheres.
Modalidades: atletismo, basquetebol, boxe, canoagem, ciclismo, esgrima, futebol, ginástica, ginástica rítmica, handebol, halterofilismo, hipismo, hóquei sobre a grama, judô, lutas, nado sincronizado, natação, pentatlo moderno, pólo aquático, remo, saltos ornamentais, tênis, tênis de mesa, tiro, tiro com arco, vela, voleibol.
Local: Seul – Coréia do Sul.
Maior medalhista: URSS – 132 no total, sendo 55 de ouro, 31 de prata e 46 de bronze.
Após três edições seguidas de Jogos Olímpicos com grandes boicotes, Seul viu o embate direto das grandes potências União Soviética, Estados Unidos e Alemanha Oriental, vencedoras da maioria das competições.
Tênis e tênis de mesa foram incluídos nos Jogos Olímpicos desse ano.
Os atletas de maior destaque nessa edição foram a nadadora da Alemanha Oriental Kristin Otto, que conquistou seis medalhas de ouro, e o também nadador Matt Biondi, dos EUA, que ganhou sete medalhas, sendo cinco de ouro. A alemã Steffi Graf foi a estrela do tênis feminino.
Infelizmente os Jogos de Seul ficaram marcados por escândalos de doping, sendo o mais famoso deles o que envolveu o corredor canadense Ben Johnson, vencedor da prova dos 100 metros do atletismo e teve sua medalha retirada dois dias depois, quando o exame antidoping acusou resultado positivo. A maioria dos casos envolveu o halterofilismo, e as equipes da Bulgária e da Hungria abandonarem a competição por conta do resultado dos exames.
Esta foi a edição mais assistida da história até aquele momento. O evento contribuiu para o crescimento econômico da Coreia do Sul e para a melhoria da imagem internacional do país, permitindo-o receber nos anos seguintes grandes eventos, como a Copa do Mundo FIFA de 2002. No Brasil, a transmissão dos Jogos foi feita em conjunto pela Rede Bandeirantes, Rede Manchete, SBT e Rede Globo, que, devido ao fuso horário, chegou a manter programação ao vivo 24 horas por dia, algo incomum na época.
A Coréia do Sul construiu duas novas linhas de metrô, reformou a sinalização de trânsito e implementou um sistema de rodízio de veículos durante o evento para evitar congestionamentos. O Aeroporto Internacional de Gimpo foi reformado, quase dobrando sua capacidade anual de passageiros. Diversos espaços públicos com potencial turístico também foram reformados.
O mascote escolhido foi um tigre, animal que simboliza o vigor e o espírito de luta do povo coreano e é parte do folclore do país. Hodori ("tigre menino") foi representado com um colar com os anéis olímpicos e um sangmo, um chapéu tradicional de músicos coreanos. O tigre ainda tinha uma namorada Hosuni, mas que não foi considerada mascote.
O evento não ficou livre dos boicotes mas, apesar dos países do bloco socialista e dos EUA terem participado, Cuba, Coreia do Norte, Nicarágua e Etiópia não enviaram delegações a Seul.
A tocha olímpica entrou no estádio conduzida por Sohn Kee-chung, campeão olímpico da maratona nos Jogos de Berlim 1936, que entregou a tocha a Im Chun-ae, campeã do salto triplo nos Jogos Asiáticos de 1986. Ela deu uma volta na pista de atletismo e entregou a tocha a Kim Won-Tak, Chung Sun-Man e Sohn Mi-Chung, três jovens atletas sul-coreanos. Uma estrutura os suspendeu até a pira de 22 metros de altura e eles a acenderam. Um dos maiores incidentes da história olímpica ocorreu neste momento, quando várias das pombas que haviam sido soltas minutos antes estavam pousadas na pira e foram incineradas.
Naim Süleymanoğlu, nascido na Bulgária e naturalizado turco, dominou a categoria até 60 kg do halterofilismo. Considerado bem baixo, com apenas 1,54 metro de altura, ele quebrou vários recordes mundiais e alcançou um resultado suficiente para conquistar a medalha de ouro até mesmo na categoria de peso acima da sua.
A União Soviética ficou com o ouro na competição masculina por equipes da ginástica com sete notas 10, a maior possível.
Anthony Nesty tornou-se o primeiro medalhista olímpico do Suriname ao vencer os 100 metros costas da natação.
Um fato inédito envolvendo mulheres foi a composição do pódio do adestramento individual no hipismo, que, pela primeira vez na história olímpica, não teve presença masculina, algo que se tornaria comum nas edições seguintes.
Um grande e comovente ato de espírito olímpico envolveu o velejador canadense Lawrence Lemieux, da classe Finn. Ele estava prestes a conquistar a medalha de prata quando abandonou a prova para ajudar a dupla de Cingapura da classe 470 (as duas classes dividiam a raia), que estava se afogando pois as águas agitadas haviam virado o barco. Após o resgate, ele voltou à prova e terminou apenas na vigésima segunda posição. Esse ato fez com o que o COI o condecorasse com a medalha Pierre de Coubertin, honraria máxima do espírito esportivo em Jogos Olímpicos.
Um episódio atrapalhado ocorreu no boxe, para o qual foram montados dois ringues, um ao lado do outro. O gongo de um ecoava sobre o outro, confundindo os atletas. Um incidente que ganhou notoriedade envolveu o embate entre o americano Todd Foster e o sul-coreano Chun Jin-Chul, que escutou o gongo do outro ringue e parou pensando ser uma advertência em sua luta. Foi nocauteado pelo americano e, só depois de muita discussão, o combate foi anulado, pra ser realizado outra vez, com vitória de Foster.
O nadador soviético Vladimir Salnikov foi o grande nome das provas de 1500 metros entre 1977 e 1986. Em Seul, já era considerado um atleta em declínio, em fim de carreira, mas foi uma grande surpresa, vencendo a prova e levando o ouro olímpico.
Uma das estrelas dessa edição foi a velocista americana Florence Griffith-Joyner, tanto pelo talento, que lhe garantiu 4 medalhas (3 de ouro e uma de prata), quanto pelo visual ousado, ostentando unhas bem compridas e coloridas.
Um incidente ao mesmo tempo trágico e feliz ocorreu nas piscinas, durante a competição de saltos ornamentais. O saltador americano Greg Louganis bateu a cabeça no trampolim e tingiu a piscina de sangue. Após receber cinco pontos na cabeça e fazer um curativo, retornou à prova, saltou e venceu, conquistando a medalha de ouro.
A derrota dos EUA para a URSS no basquete masculino, fez com que os americanos tivessem de amargar uma medalha de bronze, enquanto os soviéticos conquistaram o ouro. O terceiro lugar foi considerado humilhante e isso levou os EUA a convocar uma das melhores seleções já vistas para a edição seguinte em Barcelona: o famoso Dream Team.
O judoca brasileiro Aurélio Miguel deu continuidade à tradição de medalhas para o judô do país, conquistando o ouro na categoria meio-pesado.
O jogador de futebol Romário, em fase inicial da carreira, despontava na seleção brasileira, se consagrando como o artilheiro do torneio, embora o Brasil tivesse de se contentar com a medalha de prata na final com a URSS. Jogando junto com o “baixinho”, outra estrela começava a brilhar: a do goleiro Taffarel. Mais tarde os dois seriam campeões na Copa do Mundo FIFA de 1994 nos EUA.
O Brasil também foi medalhista no atletismo, novamente com Joaquim Cruz, dessa vez com a prata na prova dos 800m e com Robson Caetano, conquistando o bronze nos 200m rasos.
Mais uma vez a vela conferiu medalhas ao Brasil, com Torben Grael e Nélson Falcão conquistando o bronze na classe star e seu irmão Lars Grael conquistando outro bronze na classe tornado ao lado de Clínio de Freitas.
GAZETA
As tropas soviéticas iniciavam sua retirada do Afeganistão, encerrando o conflito que foi o responsável pelo boicote aos Jogos Olímpicos de Moscou em 1980.
Benazir Bhutto se tornava a primeira mulher a governar um estado muçulmano moderno, assumindo o cargo de primeira-ministra do Paquistão em 02 de dezembro de 1988.
A guerra entre o Irã e o Iraque, que já durava oito anos, se aproximava do fim com o armistício assinado entre os dois países. O fim do conflito só ocorreu mesmo dois anos depois e estima-se que mais de um milhão de vidas tenham sido perdidas.
Em 22 de dezembro de 1988 o seringueiro e ambientalista Chico Mendes foi assassinado em Xapuri, no estado do Acre, a mando de fazendeiros locais. Em dezembro de 1990, a justiça condenou os fazendeiros Darly Alves da Silva e seu filho, Darcy Alves Ferreira a 19 anos de prisão.
Na teledramaturgia a pergunta que assombrava o Brasil era “quem matou Odette Roittman?”. A personagem era a principal vilã da telenovela da Rede Globo, Vale Tudo, grande sucesso na faixa das 20h. A resposta veio apenas no último capítulo, exibido em 06 de janeiro de 1989.
Em 30 de outubro o piloto de Fórmula 1 brasileiro Ayrton Senna vence o Grande Prêmio do Japão e se tornou campeão mundial pela primeira vez.
O Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, assinado por Brasil e Argentina em 29 de novembro de 1988 lançou as bases para a fundação do Mercosul em 1991.
O acontecimento de maior importância para o Brasil foi a promulgação da Constituição Brasileira, em 05 de outubro de 1988. Esta tinha sido aprovada em 22 de setembro do mesmo ano.
Em 09 de novembro de 1989, foi anunciado o fim do Muro de Berlim, que desde 1961 dividiu a Alemanha em duas.
Número de Países: 159.
Número de Atletas: 8391, sendo 2194 mulheres.
Modalidades: atletismo, basquetebol, boxe, canoagem, ciclismo, esgrima, futebol, ginástica, ginástica rítmica, handebol, halterofilismo, hipismo, hóquei sobre a grama, judô, lutas, nado sincronizado, natação, pentatlo moderno, pólo aquático, remo, saltos ornamentais, tênis, tênis de mesa, tiro, tiro com arco, vela, voleibol.
Local: Seul – Coréia do Sul.
Maior medalhista: URSS – 132 no total, sendo 55 de ouro, 31 de prata e 46 de bronze.
Após três edições seguidas de Jogos Olímpicos com grandes boicotes, Seul viu o embate direto das grandes potências União Soviética, Estados Unidos e Alemanha Oriental, vencedoras da maioria das competições.
Tênis e tênis de mesa foram incluídos nos Jogos Olímpicos desse ano.
Os atletas de maior destaque nessa edição foram a nadadora da Alemanha Oriental Kristin Otto, que conquistou seis medalhas de ouro, e o também nadador Matt Biondi, dos EUA, que ganhou sete medalhas, sendo cinco de ouro. A alemã Steffi Graf foi a estrela do tênis feminino.
Infelizmente os Jogos de Seul ficaram marcados por escândalos de doping, sendo o mais famoso deles o que envolveu o corredor canadense Ben Johnson, vencedor da prova dos 100 metros do atletismo e teve sua medalha retirada dois dias depois, quando o exame antidoping acusou resultado positivo. A maioria dos casos envolveu o halterofilismo, e as equipes da Bulgária e da Hungria abandonarem a competição por conta do resultado dos exames.
Esta foi a edição mais assistida da história até aquele momento. O evento contribuiu para o crescimento econômico da Coreia do Sul e para a melhoria da imagem internacional do país, permitindo-o receber nos anos seguintes grandes eventos, como a Copa do Mundo FIFA de 2002. No Brasil, a transmissão dos Jogos foi feita em conjunto pela Rede Bandeirantes, Rede Manchete, SBT e Rede Globo, que, devido ao fuso horário, chegou a manter programação ao vivo 24 horas por dia, algo incomum na época.
A Coréia do Sul construiu duas novas linhas de metrô, reformou a sinalização de trânsito e implementou um sistema de rodízio de veículos durante o evento para evitar congestionamentos. O Aeroporto Internacional de Gimpo foi reformado, quase dobrando sua capacidade anual de passageiros. Diversos espaços públicos com potencial turístico também foram reformados.
O mascote escolhido foi um tigre, animal que simboliza o vigor e o espírito de luta do povo coreano e é parte do folclore do país. Hodori ("tigre menino") foi representado com um colar com os anéis olímpicos e um sangmo, um chapéu tradicional de músicos coreanos. O tigre ainda tinha uma namorada Hosuni, mas que não foi considerada mascote.
O evento não ficou livre dos boicotes mas, apesar dos países do bloco socialista e dos EUA terem participado, Cuba, Coreia do Norte, Nicarágua e Etiópia não enviaram delegações a Seul.
A tocha olímpica entrou no estádio conduzida por Sohn Kee-chung, campeão olímpico da maratona nos Jogos de Berlim 1936, que entregou a tocha a Im Chun-ae, campeã do salto triplo nos Jogos Asiáticos de 1986. Ela deu uma volta na pista de atletismo e entregou a tocha a Kim Won-Tak, Chung Sun-Man e Sohn Mi-Chung, três jovens atletas sul-coreanos. Uma estrutura os suspendeu até a pira de 22 metros de altura e eles a acenderam. Um dos maiores incidentes da história olímpica ocorreu neste momento, quando várias das pombas que haviam sido soltas minutos antes estavam pousadas na pira e foram incineradas.
Naim Süleymanoğlu, nascido na Bulgária e naturalizado turco, dominou a categoria até 60 kg do halterofilismo. Considerado bem baixo, com apenas 1,54 metro de altura, ele quebrou vários recordes mundiais e alcançou um resultado suficiente para conquistar a medalha de ouro até mesmo na categoria de peso acima da sua.
A União Soviética ficou com o ouro na competição masculina por equipes da ginástica com sete notas 10, a maior possível.
Anthony Nesty tornou-se o primeiro medalhista olímpico do Suriname ao vencer os 100 metros costas da natação.
Um fato inédito envolvendo mulheres foi a composição do pódio do adestramento individual no hipismo, que, pela primeira vez na história olímpica, não teve presença masculina, algo que se tornaria comum nas edições seguintes.
Um grande e comovente ato de espírito olímpico envolveu o velejador canadense Lawrence Lemieux, da classe Finn. Ele estava prestes a conquistar a medalha de prata quando abandonou a prova para ajudar a dupla de Cingapura da classe 470 (as duas classes dividiam a raia), que estava se afogando pois as águas agitadas haviam virado o barco. Após o resgate, ele voltou à prova e terminou apenas na vigésima segunda posição. Esse ato fez com o que o COI o condecorasse com a medalha Pierre de Coubertin, honraria máxima do espírito esportivo em Jogos Olímpicos.
Um episódio atrapalhado ocorreu no boxe, para o qual foram montados dois ringues, um ao lado do outro. O gongo de um ecoava sobre o outro, confundindo os atletas. Um incidente que ganhou notoriedade envolveu o embate entre o americano Todd Foster e o sul-coreano Chun Jin-Chul, que escutou o gongo do outro ringue e parou pensando ser uma advertência em sua luta. Foi nocauteado pelo americano e, só depois de muita discussão, o combate foi anulado, pra ser realizado outra vez, com vitória de Foster.
O nadador soviético Vladimir Salnikov foi o grande nome das provas de 1500 metros entre 1977 e 1986. Em Seul, já era considerado um atleta em declínio, em fim de carreira, mas foi uma grande surpresa, vencendo a prova e levando o ouro olímpico.
Uma das estrelas dessa edição foi a velocista americana Florence Griffith-Joyner, tanto pelo talento, que lhe garantiu 4 medalhas (3 de ouro e uma de prata), quanto pelo visual ousado, ostentando unhas bem compridas e coloridas.
Um incidente ao mesmo tempo trágico e feliz ocorreu nas piscinas, durante a competição de saltos ornamentais. O saltador americano Greg Louganis bateu a cabeça no trampolim e tingiu a piscina de sangue. Após receber cinco pontos na cabeça e fazer um curativo, retornou à prova, saltou e venceu, conquistando a medalha de ouro.
A derrota dos EUA para a URSS no basquete masculino, fez com que os americanos tivessem de amargar uma medalha de bronze, enquanto os soviéticos conquistaram o ouro. O terceiro lugar foi considerado humilhante e isso levou os EUA a convocar uma das melhores seleções já vistas para a edição seguinte em Barcelona: o famoso Dream Team.
O judoca brasileiro Aurélio Miguel deu continuidade à tradição de medalhas para o judô do país, conquistando o ouro na categoria meio-pesado.
O jogador de futebol Romário, em fase inicial da carreira, despontava na seleção brasileira, se consagrando como o artilheiro do torneio, embora o Brasil tivesse de se contentar com a medalha de prata na final com a URSS. Jogando junto com o “baixinho”, outra estrela começava a brilhar: a do goleiro Taffarel. Mais tarde os dois seriam campeões na Copa do Mundo FIFA de 1994 nos EUA.
O Brasil também foi medalhista no atletismo, novamente com Joaquim Cruz, dessa vez com a prata na prova dos 800m e com Robson Caetano, conquistando o bronze nos 200m rasos.
Mais uma vez a vela conferiu medalhas ao Brasil, com Torben Grael e Nélson Falcão conquistando o bronze na classe star e seu irmão Lars Grael conquistando outro bronze na classe tornado ao lado de Clínio de Freitas.
GAZETA
As tropas soviéticas iniciavam sua retirada do Afeganistão, encerrando o conflito que foi o responsável pelo boicote aos Jogos Olímpicos de Moscou em 1980.
Benazir Bhutto se tornava a primeira mulher a governar um estado muçulmano moderno, assumindo o cargo de primeira-ministra do Paquistão em 02 de dezembro de 1988.
A guerra entre o Irã e o Iraque, que já durava oito anos, se aproximava do fim com o armistício assinado entre os dois países. O fim do conflito só ocorreu mesmo dois anos depois e estima-se que mais de um milhão de vidas tenham sido perdidas.
Em 22 de dezembro de 1988 o seringueiro e ambientalista Chico Mendes foi assassinado em Xapuri, no estado do Acre, a mando de fazendeiros locais. Em dezembro de 1990, a justiça condenou os fazendeiros Darly Alves da Silva e seu filho, Darcy Alves Ferreira a 19 anos de prisão.
Na teledramaturgia a pergunta que assombrava o Brasil era “quem matou Odette Roittman?”. A personagem era a principal vilã da telenovela da Rede Globo, Vale Tudo, grande sucesso na faixa das 20h. A resposta veio apenas no último capítulo, exibido em 06 de janeiro de 1989.
Em 30 de outubro o piloto de Fórmula 1 brasileiro Ayrton Senna vence o Grande Prêmio do Japão e se tornou campeão mundial pela primeira vez.
O Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, assinado por Brasil e Argentina em 29 de novembro de 1988 lançou as bases para a fundação do Mercosul em 1991.
O acontecimento de maior importância para o Brasil foi a promulgação da Constituição Brasileira, em 05 de outubro de 1988. Esta tinha sido aprovada em 22 de setembro do mesmo ano.
Em 09 de novembro de 1989, foi anunciado o fim do Muro de Berlim, que desde 1961 dividiu a Alemanha em duas.
Duração: de 28 de julho a 12 de agosto
Toma lá, dá cá. Depois do boicote americano em Moscou-1980, foi a vez de a União Soviética não comparecer aos Jogos organizados em Los Angeles. Oficialmente, os motivos seriam a falta de segurança e o uso da Olimpíada para fazer propaganda antissoviética. Era mais um capítulo da Guerra Fria com impacto no esporte.
O boicote foi acompanhado por outros 11 países do bloco socialista, incluindo Cuba e Alemanha Oriental. A única exceção foi a Romênia, que ficou em segundo no quadro de medalhas, com 20 ouros. As ausências causaram aberrações na disputa esportiva, como no levantamento de peso, em que 29 dos 30 medalhistas do último mundial não estavam nos Jogos.
Se, em 1976, Montreal quase quebrou com os gastos para sediar a competição, Los Angeles teve uma postura muito diferente. Foram construídas apenas duas instalações: o estádio aquático e o velódromo. Arenas de esportes profissionais e universitários receberam as competições na Califórnia, estado em que o presidente Ronald Reagan havia sido governador por dois mandatos.
Na cerimônia de abertura, o “homem-foguete”, que com uma mochila a jato voou no Memorial Coliseum de Los Angeles, mostrou que a tecnologia chegava para ficar. Tudo foi colocado à venda: desde o percurso de 19 mil quilômetros da tocha até a piscina olímpica, construída por uma rede de lanchonetes. Primeira da história a ser financiada pela iniciativa privada, a Olimpíada de Los Angeles deu um lucro considerável (US$ 232,5 milhões) e, com a entrada maciça de patrocinadores, estabeleceu um novo parâmetro de investimento.
Então com 23 anos, o americano Carl Lewis personificou a eficiência dos Jogos. Ele conquistou quatro medalhas de ouro no atletismo, igualando o feito de seu conterrâneo Jesse Owens, em Berlim-1936. Sua primeira vitória foi nos 100 m. Depois, no salto em distância, mas de forma controversa. Após um bom primeiro salto, ele queimou o segundo, e desistiu das quatro tentativas seguintes. Por isso, apesar do ouro, foi vaiado por não ter tentado alcançar o recorde mundial. Lewis se poupava para os 200 m, no qual estabeleceu novo recorde olímpico, e o revezamento 4 x 100 m, em que o time americano quebrou o recorde mundial.
Vencedora dos 400 m com barreiras, a marroquina Nawal El Moutawakel se tornou a primeira mulher de uma nação muçulmana a conquistar o ouro olímpico. Na primeira vez que as mulheres correram a maratona nos Jogos, a imagem mais marcante foi a da suíça Gabrielle Andersen-Schiess, exausta, cruzando a linha de chegada na última posição, sendo ovacionada pelo público. O chinês Li Ning também atraiu os holofotes. Com seis medalhas, três de ouro, duas de prata e uma de bronze, ele deixou os Estados Unidos com a alcunha “o príncipe da ginástica”. Vinte e quatro anos depois, em Pequim-2008, receberia a chance de acender a pira olímpica.
O Brasil conquistou oito medalhas, o melhor desempenho até então. No lugar mais alto do pódio, Joaquim Cruz fez história nos 800 m.
CURIOSIDADES
Prejuízo colossal
O McDonald's não imaginava o boicote socialista quando lançou a promoção “Quando os EUA vencem, você vence". Cada ouro conquistado valia um hambúrguer; a prata, uma batata frita; e o bronze, um refrigerante. Os EUA conquistaram 83 ouros, 61 pratas e 30 bronzes.
Pudor
Em L.A., as ginastas foram punidas com a perda de um ponto cada vez que parte do sutiã apareceu durante as provas.
Pequeno sonho
Ainda amadores, Michael Jordan, Patrick Ewing e Chris Mullin estavam na seleção americana que conquistou o ouro no basquete. Eles se tornariam estrelas da NBA e, oito anos depois, formariam o Dream Team, ouro em Barcelona-1992.
Primeiro recorde
O grego Spyridon Louis percorreu os mais de 40 km da primeira maratona em 2h58m50s, quase uma hora mais lento que o recorde mundial do queniano Dennis Kimetto, de 2h02m57s, alcançado em setembro de 2014, em Berlim. O nível de dificuldade, no entanto, era outro. O percurso de Atenas, muitas vezes, passava no meio do mato
Joaquim Cruz exibe a bandeira brasileira depois de conquistar o ouro nos 800 metros rasos - Aníbal Philot / Agência O Globo
O SPRINT PARA O ALTO DO PÓDIO
Para Joaquim Cruz, até hoje o único brasileiro medalhista de ouro em uma prova de pista do atletismo olímpico, sua conquista em Los Angeles-1984 começou, na verdade, um ano antes. Em 1983, aos 20 anos, ele já era um jovem promissor e em forte ascensão: havia sido campeão universitário nos Estados Unidos, honra acrescida ao título mundial juvenil. Assim, foi a Helsinque, na Finlândia, para a primeira edição do Mundial de Atletismo — sua primeira grande competição internacional —, disposto a manter a tática que até então só tinha dado certo: com fôlego invejável, Joaquim costumava disparar e forçar o ritmo desde a largada dos 800m, prova considerada de meio-fundo, de forma a “quebrar” os adversários, que ficavam sem energia para o sprint final, a tática mais comum dos principais corredores.
Na final do Mundial, no entanto, o “quebrado” foi ele.
— Eu me sentia confortável correndo na frente, estava sempre dando certo, só sabia fazer assim. De repente, na final, um inglês, o Peter Elliott, forçou ainda mais, saiu em disparada. Aquilo me desarmou, eu caí no erro de disputar a ponta com ele, gastei toda minha energia. Na reta final, fomos nós dois ultrapassados — lembra Joaquim, que terminou com o bronze (Elliott foi quarto). — Aquela lição me salvou na Olimpíada.
De qualquer forma, Joaquim chegou a Los Angeles entre os favoritos, talvez apenas um pouco abaixo dos ingleses Sebatian Coe e Steve Owett, dois que adoravam a tática de administrar o ritmo no início até o sprint final. Trinta e dois anos depois, Joaquim diz que tinha convicção do ouro.
— Em janeiro de 1984, pressenti o ouro. Estava treinando muito bem. Tinha muita certeza da vitória, só não gostava de falar, mesmo para pessoas próximas, para não dar azar — revela o ex-atleta, de 53 anos, hoje treinador da equipe paralímpica dos Estados Unidos. — Eu morava e treinava em Eugene, no Oregon. Um dia, o síndico do meu prédio disse que tinha comprado ingresso para a final dos 800 m na Olimpíada. Fui no meu quarto, peguei minha bandeira do Brasil e dei para ele: “me espera com ela perto da pista”. Aquela bandeira que eu peguei para dar a volta olímpica era a minha.
Depois de vencer suas baterias nas quartas e na semifinal, Joaquim se deparou novamente com um “coelho” na final olímpica. O queniano Edwin Koech liderou mais da metade da prova (terminaria em sexto).
— Ali eu sabia que não podia repetir o erro de Helsinque. Fui em segundo, atrás dele. O ritmo estava bom para mim. O esperado era o Coe vencer. Faltando pouco mais de 100 metros, dei o bote, passei o queniano, e aí já não via mais nada. Só sentia a pista livre e a linha de chegada me abraçando — conta ele, cuja vitória teve enorme repercussão. — Estava passando ao vivo, né? Interromperam a novela para mostrar minha prova.
Aquele foi o único ouro brasileiro em Los Angeles, mas houve outros grandes momentos do país, que conquistou ainda cinco pratas e dois bronzes. O vice-campeonato de Ricardo Prado merece citação especial.
Natural de Andradina, no noroeste paulista, divisa com o Mato Grosso do Sul, Pradinho, de 1,65 m, foi um nadador precoce: aos 12 anos, integrou a seleção brasileira num sul-americano. Aos 15, disputou a Olimpíada de Moscou. Com 17, em 1982, bateu o recorde mundial dos 400 m medley, marca que seria quebrada pelo canadense Alex Baumann meses antes dos Jogos de Los Angeles. Na final olímpica, Pradinho largou na frente, mas foi superado por Baumann, que melhorou sua marca histórica.
Marcou época para os brasileiros ainda a chamada “geração de prata”, o time de vôlei de William, Renan, Montanaro e Bernard, entre outros, que perdeu a final para a seleção da casa. Comandado pelo técnico Bebeto de Freitas, e com Bernardinho como levantador reserva, aquele time semeou o ouro que viria depois com as gerações de 1992 e 2004.
O Brasil ainda foi prata no judô, com Douglas Vieira, na vela, com o trio Torben Grael, Daniel Adler e Ronaldo Senfft, e no futebol masculino. E bronze, com Wlater Carmona e Luiz Onmura, ambos do judô.
Nas semifinais, Gilmar Pipoca fez um dos gols da vitória brasileira sobre a Itália por 2 a 1 - Terceiro / AP
CHOQUE CULTURAL NA PRATA
Muitos acreditam que a mistura de futebol e Jogos Olímpicos não encaixa perfeitamente, talvez fruto da dimensão que o esporte mais popular do mundo dá a seus atletas. A desvalorização de quem fica em segundo e terceiro lugares é um das características da cultura da modalidade em que o Brasil chegou, em 1984, como tricampeão da Copa do Mundo. A histórica apresentação do cantor americano Lionel Richie no Memorial Coliseum de Los Angeles, quando cantou o hit “All Night Long” por nove minutos na festa de encerramento, ajudou a cicatrizar a dor da perda da medalha de ouro, até hoje inédita para a seleção brasileira. No campo, os jogadores dançavam com atletas do mundo inteiro, muitos deles desconhecidos amadores.
Na véspera, o Brasil caíra na final para a seleção francesa por 2 a 0, diante de mais de 100 mil torcedores no Rose Bowl, em Pasadena, mesmo estádio que, dez anos depois, seria palco do tetracampeonato mundial — o goleiro Gilmar Rinaldi e o volante Dunga foram os únicos presentes nas duas competições. Passado os primeiros momentos de tristeza, a primeira medalha olímpica do futebol brasileiro ganhava valor no mar de atletas que se despedia de mais uma Olimpíada.
— Eu fiquei muito abatido depois do jogo, muito mesmo. Não conseguia comemorar. Só pensava no ouro. Foi muito triste o momento do hino francês, quando a bandeira do Brasil subiu um degrau abaixo — relembra o jogador eleito como o melhor da competição, Gilmar Popoca, então no Flamengo, e hoje técnico da equipe sub-20 do clube. — Depois de um dia, você começa a entender o que é ser um medalhista olímpico. Cheguei de tão longe e estava fazendo sucesso ali. A medalha está guardada com muito carinho e amor. Ela traz muito mais lembranças boas do que ruins.
O sentimento é compartilhado por um companheiro de seleção, o zagueiro Mauro Galvão. Ele é crítico à forma como as disputas olímpicas são encaradas no esporte por quem fez carreira de sucesso.
— Na hora, a gente não tem noção do que representa a medalha, mas eu a guardo de forma muito especial. O futebol tem valores muitos errados, acha que só o primeiro lugar é que tem valor, mas não é. Na Olimpíada existem três medalhas: ouro, prata e bronze. Ao ganhar uma delas, você já cumpriu mais do que sua obrigação — afirma o ex-jogador. — Hoje, com mais experiência, consigo entender o quanto foi bacana ter participado dos Jogos como atleta. Todos os atletas deveriam ter essa possibilidade.
Os mais de seis mil competidores dos Jogos se dividiram em três vilas olímpicas, todas em campus universitários americanos. O Brasil ficou na Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA), de onde o time de futebol não conseguia sair para acompanhar as demais delegações do país. Com treinos diários, o jeito era acompanhar o desenrolar dos Jogos em televisões coletivas espalhadas pela vila. Mais próximos da seleção de vôlei, que também deixaria os Estados Unidos com a medalha de prata, os jogadores acabaram se interessando também por outros esportes.
— Na hora de fazer as refeições, não tínhamos a obrigação de sentar com nossa delegação de futebol ou com os brasileiros. Me lembro de, uma vez, sentar na mesa com um chinês. Só depois é que soubemos que ele era o Li Ning, um dos feras da Olimpíada, que ganhou medalha de tudo quanto é jeito — conta Popoca sobre o “Príncipe da ginasta”. — Ficamos na mesma vila que países da Cortina de Ferro, da China, então, a segurança era 50 vezes maior. Lembro de conviver com os caras da SWAT (esquadrão de elite da polícia americana), que só víamos em filmes. Até isso era muito legal.
A formação da seleção brasileira que foi aos Jogos é, no mínimo, curiosa. A partir de 1984, as regras para a participação na Olimpíada foram modificadas. A competição já não seria apenas para amadores, bastava que os jogadores nunca tivessem atuado em uma Copa do Mundo. Com reformulações às vésperas da competição, a CBF convidou o time do Fluminense para representar o país, que declinou. O convite viria a ser aceito pelo Internacional.
A seleção, então, foi formada por 11 jogadores do clube gaúcho mais representantes de Flamengo, Corinthians, Santos, Grêmio e Ponte Preta. Na primeira fase, o time dirigido por Jair Picerni venceu a Arábia Saudita por 3 a 1, fez um jogo duro contra a Alemanha Ocidental, mas conseguiu a vitória em cobrança de falta de Popoca a quatro minutos do fim, e bateu Marrocos por 2 a 0. As quartas de final contra o Canadá parecia fácil, mas o Brasil começou atrás e teve que buscar o empate. A classificação para as semifinais veio nos pênaltis.
— Naquele época, não tínhamos muitas informações sobre os adversários. Íamos na intuição, na vontade e no entrosamento que os jogadores do Inter tinham e que outros foram inseridos — diz Mauro Galvão.
Na semifinal, o Brasil passou pela Itália, de Baresi e Massaro, por 2 a 1 depois de empate no tempo normal.
— Foi um jogo muito pegado e violento, o que eu mais sofri — revela Popoca, que abriu o placar no início do segundo tempo. — Na época, o futebol italiano contratava muitos brasileiros. Na saída para o intervalo, um deles veio com raiva e perguntou se eu queria um dólar. Eu disse que ia dar uma caneta e dei mesmo, mas levei uma rasgada que cortou minha caneleira.
Na final, a ducha de água fria veio com dois gols franceses, marcados por Brisson e pelo artilheiro Xuereb no início do segundo tempo. Após a tristeza, a prata seria celebrada no dia seguinte com “All Night Long”.
ARTIGO: Não há Olimpíada sem política
Por Renato Galeno *
Até o calendário da Grécia Clássica e Helenística foi definido pelo esporte – “olimpíada” nada mais era do que o período de quatro anos entre os Jogos, numa forma de harmonizar calendários específicos de cada cidade-estado (como o “antes e depois” de Cristo hoje em dia).
Nas Olimpíadas modernas, a política sempre esteve presente. Os Jogos nazistas de Berlim, em 1936, foram o exemplo mais óbvio. Os Jogos de 1960 (Roma) e 1964 (Tóquio) serviram como símbolo do retorno de Itália e Japão, países do Eixo na Segunda Guerra Mundial, à comunidade internacional. Mas o auge da relação entre política e esporte se deu entre 1968 e 1984. Política internacional, em grande medida, era algo reservado para presidentes, primeiros-ministros e ditadores, mas o ano de 1968 derrubou as fronteiras mentais quando milhões de jovens foram às ruas, seja por questões específicas (Guerra do Vietnã nos EUA, ditadura no Brasil) ou por temas universais, como feminismo, meio ambiente, terror nuclear ou a máxima “é proibido proibir”, de maio em Paris. E nenhum evento neste ano era tão obviamente planetário quanto a Olimpíada, onde o mundo se encontra a cada quatro anos.
Na Cidade do México, a “política” começou dez dias antes dos Jogos, quando militares dispararam em direção a estudantes que protestavam contra a violência governamental na Praça de Tlatelolco, matando centenas (massacre só reconhecido pelo governo mexicano em 2001). Isso, à época, a comunidade internacional não viu, mas ninguém no mundo teve a chance de ignorar o que outros três jovens fariam na cerimônia de premiação dos 200 m rasos. O vencedor, Tommie Smith, e o terceiro colocado, John Carlos, eram negros americanos e integrantes do Projeto Olímpico para os Direitos Humanos (PODH).
Membros da delegação chinesa faz protesto na cerimônia de abertura da Olimpíada de Roma, em 1960 - AP
Num dos gestos mais marcantes da história dos Jogos, durante a execução do hino nacional dos EUA, Smith e Carlos abaixaram suas cabeças (a norma patriótica ordena que se olhe a bandeira sendo hasteada) e levantaram punhos cerrados ao ar, com suas mãos cobertas por luvas negras — a saudação do Poder Negro. Na segunda posição ficou o australiano Peter Norman, branco. Mas, longe de ter sido um estranho no ninho do protesto, Norman apoiou inteiramente os adversários americanos. Ele prendeu no uniforme o símbolo do PODH. Smith e Carlos foram banidos dos Jogos por ordem do então presidente do COI, um americano, mas depois seriam resgatados por seu país.
Já o solidário Norman, que se uniu a uma causa que não era sua por considerá-la um dever moral, foi ridicularizado e ameaçado ao voltar para casa, e foi um dos poucos medalhistas australianos a não ser convidado para a cerimônia de abertura dos Jogos na “sua” Austrália, em 2000. Quando morreu, em 2006, seu caixão foi carregado por Smith e Carlos. O Parlamento australiano pediu desculpas à memória de Norman apenas em 2012.
A Olimpíada seguinte deveria ser o momento em que a política se encontraria com a alegria. Munique, palco principal da ascensão do nazismo na Alemanha, recebia o mundo não com os braços raivosamente estendidos da saudação nazista, mas de braços abertos. O que ocorreu, no entanto, foi o momento mais sombrio da história olímpica.
A delegação mais celebrada era a israelense, um pedido de desculpas pelo Holocausto. Porém, 11 integrantes da delegação seriam vítimas de um ataque realizado pelo grupo nacionalista palestino Setembro Negro (criado como referência à repressão de palestinos na Jordânia em 1970, e liderado em Munique por um palestino laico, filho de pai cristão e mãe judia). Durante a madrugada, o prédio da delegação israelense foi invadido. Dois atletas que resistiram foram mortos. Os demais nove reféns morreram durante uma patética tentativa de resgate (dois meses depois, Bonn criaria sua unidade antiterrorista de elite, a GSG-9). A foto mais marcante da história olímpica não é a da vitória de Jesse Owens em 1936 ou das piruetas mágicas de Nadia Comaneci em 1976, mas a de um terrorista encapuzado na sacada do prédio invadido.
A política internacional precederia os Jogos de 1976, quando as duas potências rivais da Guerra Fria ofereceram cidades-candidatas (Moscou e Los Angeles). A maioria silenciosa preferiu uma opção relativamente neutra, o Canadá. Apesar disso, as Olimpíadas de Montreal seriam marcadas pelo primeiro boicote em massa. Vinte e oito países retiraram-se dos Jogos: todos os países africanos então independentes (com duas exceções), além de Iraque e Guiana. O motivo foi a participação da Nova Zelândia nos Jogos. Desde 1964, a África do Sul estava banida do esporte devido ao apartheid. Além disso, nenhuma equipe estrangeira deveria receber ou visitar equipes sul-africanas. Mas a equipe de rúgbi da Nova Zelândia fez uma turnê na África do Sul — seus cinco atletas maoris receberam o status de “brancos honorários” enquanto estavam lá. Os países africanos exigiram a proibição da participação neozelandesa nos Jogos e, ao terem o pedido negado, retiraram-se.
Mas seria nas duas Olimpíadas seguintes que a política internacional afetaria de modo escancarado o esporte. Traindo o espírito original dos Jogos (quando as guerras paravam), o esporte se tornou a continuação da política por outros meios (parafraseando Clausewitz). Como reação à invasão do Afeganistão no Natal de 1979, o governo do então presidente Jimmy Carter anunciou que os EUA boicotariam os Jogos de Moscou, em 1980, e exerceu pressão internacional para ser seguido. Ao todo, 66 países deixaram de participar. Dezessete países enviaram delegações, mas sob diferentes graus de protesto, como não participar da cerimônia de abertura ou competir sob a bandeira olímpica. O ursinho Misha chorou.
Uma Olimpíada depois, a retribuição. A União Soviética anuncia que não participaria dos Jogos de Los Angeles, levando ao boicote de 14 países do bloco comunista (o que significou a ausência de várias das principais potências esportivas), além de outros três por outros motivos, como o Irã do aiatolá Khomeini e a Líbia de Kadafi. Os primeiros furos no bloco comunista já podiam ser sentidos, como demonstram as participações de Romênia e Iugoslávia — e da China, que boicotara os Jogos de Moscou.
Política e Olimpíada são criações gregas. O significado original de “política” pode ser resumido como “aquilo que é próprio dos habitantes da pólis para a vida em comum”. A Olimpíada é o momento em que o mundo se encontra, em que ele se enxerga como algo compartilhado por todos os humanos. Que nunca mais se desvirtue este tipo de política representada pelo puro espírito olímpico original.