1976, MONTREAL

Período: 17 de julho a 01 de agosto de 1976.

Número de Países: 92.

Número de Atletas: 6084, sendo 1260 mulheres.

Modalidades: atletismo, basquetebol, boxe, canoagem, ciclismo, esgrima, futebol, ginástica, handebol, halterofilismo, hipismo, hóquei sobre a grama, judô, lutas, natação, pentatlo moderno, pólo aquático, remo, saltos ornamentais, tiro, tiro com arco, vela, voleibol.

Local: Montreal – Canadá.

Maior medalhista: URSS – 125 no total, sendo 49 de ouro, 41 de prata e 35 de bronze.

Financeiramente os Jogos foram um fracasso, causando um dos maiores prejuízo econômico da história olímpica. Sendo superado apenas pela edição de Atenas em 2004. O prejuízo total superou os 2 bilhões de dólares americanos e levou a cidade a demorar mais de 40 anos para conseguir quitar as dívidas relacionadas ao evento. O vultuoso e problemático estádio olímpico perdura como um símbolo do fracasso financeiro desta edição.

Os Jogos foram abertos pela Rainha Elizabeth II e toda a família real britânica esteve presente na cerimônia de abertura. A chama olímpica foi transmitida “eletronicamente” por ondas elétricas de Atenas até Ottawa, capital do país, através de sinais de satélites, de onde foi levada em revezamento até Montreal, e entrou no estádio conduzida por um casal de jovens, um de origem francesa e a outra de origem inglesa, representando as duas culturas que formaram o país. Esse revezamento foi um vexame mundial, porque uma forte chuva apagou a Pira Olímpica e, numa atitude desesperada, um funcionário do estádio a acendeu com um isqueiro.

Pela primeira vez um boicote aos Jogos foi verdadeiramente executado, quando 32 nações, sendo 24 africanas, se recusaram a participar desta edição em protesto contra a Nova Zelândia, cuja seleção de rúgbi havia competido na África do Sul, país que fora banido da Olimpíada por conta do regime racista do Apartheid. Os países boicotadores se recusaram a participar como forma de exigência pelo banimento dos neozelandeses, o que não foi realizado pelo COI.

A ginasta romena Nadia Comăneci, então com 14 anos, foi a grande estrela de Montreal, sendo a primeira atleta da história a receber a nota máxima, 10.0, na modalidade de barras assimétricas. Até então a nota 10 era considerada impossível e o placar sequer dispunha de dígitos o suficiente para sinalizá-la, sendo necessário apresentar a nota como 1.0. Comăneci recebeu 3 medalhas de ouro nesta edição, além de uma de prata por equipes e uma de bronze no solo.

As modalidades femininas do basquetebol, handebol e remo foram introduzidas nessa edição dos Jogos.

O soviético Viktor Saneyev conquistou o tricampeonato no salto triplo, superando o então recordista mundial, o brasileiro João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, bronze na prova.

Essa edição contou com a lendária equipe de boxeadores norte-americanos, formada por Sugar Ray Leonard, Leon Spinks, Michael Spinks, Leo Randolph e Howard Davies Jr. Os cinco conquistaram medalhas de ouro em suas respectivas categorias.

A princesa Anne da Grã Bretanha foi a única participante feminina dos Jogos a não ser submetida a teste de confirmação de sexo. Anne fez parte da equipe inglesa de equitação.

O ginasta japonês Shun Fujimoto conquistou a excelente nota 9,7 nas argolas, e conseguiu a medalha de ouro por equipes para o Japão. Ele disputou a prova com o joelho quebrado.

O italiano Klaus Dibiasi conseguiu o inédito tricampeonato olímpico nos saltos ornamentais.

Pela primeira vez um campeão olímpico assistiu seu filho também se tornar campeão olímpico. Com lágrimas nos olhos, o húngaro Imre Németh, campeão no lançamento do martelo nos Jogos de Londres em 1948, acenava para o filho Miklos Németh, vencedor dessa edição.

Na natação feminina a Alemanha Oriental ganhou 11 das 13 medalhas de ouro.

No atletismo, o americano Edwin Moses se tornava um dos maiores atletas de todos os tempos na modalidade 400m com barreiras, conquistando a medalha de ouro com uma margem de 8m sobre o segundo colocado, a maior já registrada na história da competição.

Além do Bronze de João do Pulo, a outra medalha brasileira, também de bronze, veio com Reinaldo Conrad e Peter Ficker, na vela.

Hasely Crawford conquistou a medalha de ouro nos 100m do atletismo e se tornou um grande astro em Trinidad e Tobago, seu país de origem.

A mais longa partida de vôlei masculino em Jogos Olímpicos ocorreu na final entre a vencedora Polônia e a URSS, durando 4h36m, algo que não é possível hoje, com a extinção da regra da vantagem, vigente então.

A Tchecoslováquia foi seriamente prejudicada no ciclismo graças a uma trapalhada causada por um faxineiro, que jogou no lixo todos os guidões e rodas das bicicletas da equipe.

O soviético Boris Onischenko protagonizou uma atitude antidesportiva e vergonhosa na prova de esgrima do pentatlo moderno. Ele instalou um transistor em sua espada, de modo a marcar pontos mesmo sem encostar no adversário. Foi descoberto e expulso da competição.

O Canadá é, até hoje, o único país-sede dos Jogos Olímpicos que não ganhou nenhuma medalha de ouro em seus próprios Jogos, conquistando apenas 5 de prata e 6 de bronze.

O castor Amik (que na língua dos índios canadenses Algonquin significa castor) foi o mascote dessa edição dos Jogos.

O estudante Michel LeDuc invadiu o gramado do estádio olímpico completamente nu durante a cerimônia de encerramento dos Jogos.

GAZETA

O líder comunista chinês Mao Tsé-Tung morreu em 09 de setembro de 1976.
Lançada em 20 de agosto de 1975, a sonda da NASA, Viking 1 chegou a Marte em 19 de junho de 1976, sendo a primeira a orbitar o “Planeta Vermelho”.
O primeiro voo comercial do Concorde foi realizado em 21 de janeiro de 1976.
A Microsoft foi fundada em 04 de abril de 1975, seguida pela Apple, fundada em 01 de abril de 1976. Ainda no ramo da tecnologia, o videocassete, criado em 1971, mas ainda sem apelo comercial amador, foi redesenhado para o modelo que se popularizou em muitas casas a partir de então. O sistema VHS foi lançado pela JVC em 1976, superando o sistema Betamax, predecessor. Reproduzir e gravar programas se tornava uma sensação.
Um golpe de estado orquestrado pelos líderes das três forças armadas argentinas em 24 de março de 1976, pôs fim ao governo de Isabelita Perón e instalou uma ditadura militar no país.
O Cruzeiro venceu o River Plate e conquistou pela primeira vez a Taça Libertadores da América de futebol.
Em 1976 o pugilista brasileiro Éder Jofre fez sua última luta, na qual venceu o mexicano Octavio “Famoso” Gómez.




Na esgrima, os italianos Mario Aldo Montano e Michele Maffei disputaram o ouro no sabre - Acervo/COI




Duração: de 17 de julho a 1 de agosto
Países: 92
Atletas: 6.084

A principal cidade da província francófona de Quebec superou a russa Moscou e a americana Los Angeles na disputa para sediar os Jogos de 1976, mas mal sabiam seus cidadãos que as dívidas de US$ 1,48 bilhão quase quebrariam Montreal, que não teve apoio do governo federal na realização do evento. Os débitos fizeram os impostos subirem, e demoraram 30 anos para serem pagos. Elefante branco da competição, o Estádio Olímpico ficou marcado como o grande vilão local. Seu apelido “Big O” (Grande O, pelo formato) se transformou em “Big Owe” (Grande dívida), e é possível que ele seja demolido a partir de 2019.

Do ponto de vista financeiro, a Olimpíada esteve longe de ser um sucesso, mas no campo esportivo, proporcionou grandes feitos. O mais lembrado é o da ginasta romena Nadia Comaneci, que, aos 14 anos, alcançou a primeira nota 10 de seu esporte. O desempenho irretocável lhe garantiu o título nas barras assimétricas. Ela deixou o Canadá com três ouros, uma prata e um bronze. Também na ginástica, só que masculina, Shun Fujimoto ajudou o Japão a conseguir o ouro por equipe mesmo com o joelho deslocado. Com a nota 9,7 no solo, o japonês garantiu o alto do pódio para seu país, deixando a União Soviética com a prata.

Para o esporte feminino, os Jogos em Montreal foram de grande importância. As mulheres passaram a disputar torneios de basquete, em que a União Soviética venceu os arquirrivais americanos; de handebol, com nova vitórias das soviéticas, dessa vez sobre a Alemanha Oriental; e do remo, em que a Alemanha Oriental se sobressaiu com quatro dos seis ouros possíveis.

O Brasil conquistou duas medalhas de bronze. Na vela, Reinaldo Conrad, que já havia conseguido a medalha oito anos antes, voltou a ficar em terceiro na classe Flying Dutchman. Dessa vez, ao lado de Peter Ficker.

A outra medalha de bronze veio com João Carlos de Oliveira, o João do Pulo. Ele chegou à Olimpíada com dois ouros pan-americanos conquistados no ano anterior, na Cidade do México, quando venceu o salto em distância e o salto triplo, batendo o recorde mundial do soviético Viktor Saneyev. Recuperando-se de uma cirurgia na barriga, no entanto, foi destronado pelo soviético. Mesmo assim, ampliou a tradição de medalhas do salto triplo brasileiro, iniciada com Adhemar Ferreira da Silva e seguida por Nelson Prudêncio.

Com um dos melhores times de boxe de todos os tempos, os Estados Unidos levaram ouros para casa. Venceram suas categorias Sugar Ray Leonard, os irmãos Leon e Michael Spinks, Leo Randolph e Howard Davis Jr. Desses, apenas o último não se tornou também um campeão do mundo entre os profissionais.

Montreal sofreu um forte boicote dos países africanos, que não aceitavam a presença da Nova Zelândia. A seleção de rúgbi do país, os All Blacks, rompeu o pacto de não competir com equipes sul-africanas durante o regime do apartheid. Foram 28 países e cerca de 300 atletas ausentes da Olimpíada.

CURIOSIDADES


Fator casa?

O Canadá foi o primeiro e segue sendo o único país-sede a não ter conseguido sequer uma medalha de ouro nas Olimpíadas. O país terminou apenas em 27º no quadro de medalhas, com 11, sendo cinco de prata e seis de bronze.

Realeza

A princesa Anne fez parte da equipe britânica de hipismo, que ficou em sétimo.

Trapaça

A Alemanha Oriental teve uma performance arrebatadora, mas, após a queda do muro de Berlim (1989), descobriu-se que o país adotava o doping como prática e aplicava testosterona em mulheres, o que talvez explique os 11 ouros em 13 provas da natação feminina.


O 10 MAIS ESPETACULAR DA HISTÓRIA

Maior nome da modalidade em todos os tempos, a romena Nadia Comaneci compete na ginástica artística em Montreal, em 1976 - Acervo

o que voce fazia aos 14 anos? Nesta idade, a romena Nadia Elena Comaneci encantou o mundo com a mais impressionante performance individual da história das Olimpíadas. Em Montreal-1976, a menina de 1,53m, 45 kg e colecionadora compulsiva de bonecas, com mais de 200 delas, subverteu a elasticidade e a gravidade com graça para conquistar o primeiro 10 de uma uma prova de ginástica artística. Ninguém brilhou tanto no Canadá quando a jovem com suas três medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze.

Nascida em Onesti, uma pequena cidade industrial no interior do país, Nadia se viu, aos 6 anos, e por acaso, diante daquele que seria seu treinador por quase toda a carreira: Béla Károlyi. Ex-pugilista, que competiu em outros esportes, como rúgbi e handebol, aproximou-se da ginástica artística graças aos estudos em educação física. Ao se transferir para Onesti no fim da década de 60, Nadia Comaneci foi uma de suas primeiras alunas.

Conta a história que o treinador se surpreendeu com a jovem que mostrava aptidão para o esporte e, talvez ainda mais importante, não temia a trave. Muito pelo contrário: a menina caminhou sobre ela como se fosse um brinquedo do dia a dia. Os passos seguintes vieram em forma de quatro horas diárias de treinos fortes, com folgas apenas aos domingos. A metodologia de Károlyi e sua mulher, Marta, seria questionada no futuro, mas não por Comaneci.

— Na verdade, eu fazia mais do que eles pediam. Quando Béla dizia “hoje vamos fazer cinco vezes a rotina na trave”, eu fazia sete. Eu não me importo em trabalhar forte e não reclamo por isso. Você tem que trabalhar para subir de nível. Não procuro o jeito fácil, e tenho orgulho disso — declarou a romena.

Quando chegou ao Canadá, Comaneci conhecia o ambiente competitivo tão bem quanto as rotinas de cada equipamento. Ela começou a participar de torneios, como o campeonato nacional júnior de ginástica, aos 7 anos de idade. Um ano depois, já era campeã nacional, feito que repetiria em três edições seguidas.

As medalhas de ouro em competições internacionais, no início na vizinha Bulgária, chegaram aos 9 anos. Com 13, Nadia já competia entre adultas, e com sucesso. Um ano antes da Olimpíada, ganhou quatro medalhas de ouro e uma de prata no Europeu.

Já não recaíam dúvidas sobre o seu talento, mas ninguém esperava o que aconteceria em Montreal. Em sua primeira apresentação, nas paralelas assimétricas, a jovem levantou o público e, ao fim, o telão mostrou a nota “1.00”, apenas um décimo do total possível. Ela nem sequer cogitou que houvesse um erro. Pela primeira vez na história, alguém recebia uma nota perfeita. Até o fim dos Jogos, ela receberia outras seis notas 10 nas paralelas. Os ouros vieram justamente nas paralelas, no individual geral e na trave. O bronze, no solo. Apesar de suas notas, o time da União Soviética superou o da Romênia, deixando o país com a prata por equipe.

A vida dali para frente jamais seria a mesma. Comaneci esteve em capas de revistas, foi a pessoa mais jovem a receber o título de heroína do trabalho socialista, e teve sua família vigiada. Em 1978, em seu primeiro mundial, conquistou uma medalha de ouro, na trave, e duas de prata, no salto sobre o cavalo e por equipe. No Mundial do ano seguinte, conquistou o ouro por equipe. Nadia ainda voltaria aos Jogos de 1980, sem a concorrência da equipe americana, devido ao boicote. Ela saiu de Moscou com dois ouros, no solo e na trave, além de duas pratas, no individual geral e por equipe. Ao todo, em duas edições dos Jogos, ela conquistou nove medalhas (cinco ouros, três pratas e um bronze).

Em 1989, a agora ex-ginasta fugiria da Romênia. Atravessou andando a fronteira com a Hungria, e de lá seguiu para Viena, na Áustria, onde pediu asilo político nos Estados Unidos — algo que Károlyi já havia feito oito anos anos. Em 1990, ela se mudou para Montreal, palco de suas maiores conquistas, onde ficou até 1993, quando, a convite do também campeão olímpico na ginástica Bart Conner, voltou para os EUA. Eles se casaram em 1996. Os dois têm um filho, Dylan Paul, hoje com 10 anos.



FONTE: h