1968, CIDADE DO MÉXICO

Período: 12 a 27 de outubro de 1968.


Número de Países: 112


Número de Atletas: 5516, sendo 781 mulheres.


Modalidades: atletismo, basquetebol, boxe, canoagem, ciclismo, esgrima, futebol, ginástica, halterofilismo, hipismo, hóquei sobre a grama, lutas, natação, pentatlo moderno, pólo aquático, remo, saltos ornamentais, tiro, vela, voleibol.


Local: Cidade do México – México


Maior medalhista: EUA – 107 no total, sendo 45 de ouro, 28 de prata e 34 de bronze.


Pela primeira vez os Jogos foram sediados na América Latina e a altitude de 2.300m acima do nível do mar da capital mexicana gerou controvérsias sobre os danos que o ar mais rarefeito poderia causar no desempenho dos atletas.


De fato, a altitude prejudicou o desempenho dos atletas nas provas de resistência e de longa distância, como o ciclismo, a natação e a maratona, mas em compensação ajudou a gerar novos recordes mundiais e olímpicos nos eventos mais curtos e de esforço mais rápido como as corridas de menos de 800m, halterofilismo, lançamento de dardo e outros.


Nesta edição o percurso da tocha olímpica seguiu a mesma rota feita pelo navegador Cristóvão Colombo quando descobriu a América, saindo da Espanha, passando pelas Bahamas até chegar a Vera Cruz na costa mexicana.


Esta edição também ficou marcada como os Jogos dos atletas afro-americanos, tanto pela sua performance espetacular nos eventos que participaram, quanto pelos inéditos protestos políticos e raciais que trouxeram para dentro do apolítico movimento olímpico.


Na prova de atletismo dos 100 metros o velocista Jim Hines alcançou a marca de 9 segundos, ultrapassando o que era definido como o limite humano: 10m/s.


No salto em distância, destacava-se Bob Beamon, saltando impressionantes 8,90m, recorde que perduraria por mais 23 anos.


Outro recorde se instalava com uma inovação na modalidade do salto em altura: o americano Richard Fosbury saltou 2,24m, introduzindo a técnica de ultrapassar o sarrafo de costas, no que seria adotado mais tarde como o estilo padrão da modalidade, o “Fosbury Flop”.


Nos ringues surgia outro fenômeno, o pugilista George Foreman, que naquela edição, ganhou o ouro na categoria peso-pesado, derrubando 3 de seus 4 oponentes por nocaute.


O saltador paulista Nelson Prudêncio protagonizou um dos momentos mais eletrtizantes do salto triplo, quando disputou acirradamente a final com o soviético Viktor Saneyev. Ficou com a medalha de prata, deixando a URSS emplacar mais um ouro.


O brasileiro Servílio de Oliveira ganhou a medalha de bronze no boxe na categoria mosca. E outro bronze brasileiro foi conseguido na vela, pelos velejadores Reinaldo Conrad e Burkhard Cordes, na categoria Flying Dutchman (hoje extinta).


Os norte-americanos Tommie Smith e John Carlos, ouro e bronze nos 200 metros rasos de atletismo subiram ao pódio e comemoraram com os punhos cerrados e vestidos com luvas negras, numa alusão ao movimento negro Black Power. O episódio foi seguido de muita confusão, com a expulsão dos dois da vila olímpica e a quase cassação de suas medalhas, o que não ocorreu apenas depois de muita negociação. Na prova dos 400 metros de natação, outros 3 atletas americanos subira ao pódio com sinais de protesto: ostentavam boinas, outro símbolo do movimento. Até os cubanos aderiram, anunciando que enviariam suas medalhas de prata do revezamento 4x100m a um dos líderes do movimento, Stokely Carmichael.


A ginasta tcheca Vera Caslávská protestou contra a invasão soviética ao seu país virando as costas para a bandeira da URSS nas 3 vezes em que subiu ao pódio e derrotou atletas soviéticas. Após os jogos ela se exilou no México.


Foi a primeira vez em que três africanos dividiram o pódio numa mesma competição, levando o Quênia a abraçar o ouro nos 10 mil metros de atletismo, seguido pela prata da Etiópia e o bronze da Tunísia.


GAZETA


Ocorre a Primavera de Praga, iniciada em 05 de janeiro de 1968 e marcada pela invasão soviética e do Pacto de Varsóvia à capital da Tchecoslováquia.

O Massacre de Tlatelolco, também conhecido como a Noite de Tlatelolco ocorreu no México em 02 de outubro de 1968 na Plaza de las Tres Culturas, dez dias antes dos Jogos Olímpicos. Após vários meses de instabilidade política, 15 mil estudantes de várias universidades invadiram as ruas da Cidade do México, ostentando cravos vermelhos como sinal de protesto contra a ocupação militar da UNAM (Universidade Nacional Autónoma do México). O resultado foi uma forte repressão que levou a um impressionante número de mortos, que algumas fontes apontam ultrapassar mil pessoas, embora a maioria defina algo como entre 200 e 300 e as fontes governamentais trabalharem com 40 mortos e 20 feridos.

A China iniciava em 1966 a Grande Revolução Cultural Proletária (conhecida como Revolução Cultural Chinesa), cuja ideia essencial era manter o fervor revolucionário e um estado constante de luta e superação, mecanismos necessários, na concepção de Mao Tsé Tung, para manter a revolução comunista. Como finalidade, Mao buscava expurgar e eliminar a oposição. Rapidamente o movimento tomou forma de um culto à personalidade, principalmente a partir de 1968, com a promoção de Mao a um status praticamente de deus terreno. Expurgos, banimentos e uma onda de violência tomaram conta da China.

Martin Luther King Jr. foi assassinado em Memphis (EUA) em 04 de abril de 1968.

No Rio de Janeiro, no auge da Ditadura Militar, o estudante Edson Luís de Lima Souto foi assassinado por policiais militares em 28 de março de 1968, durante um protesto estudantil no restaurante Calabouço contra a alta do preço da comida.

Entra em vigor no Brasil o Ato Institucional Nº 5, ou AI-5, em 13 de dezembro de 1968, um dos mais duros instrumentos de repressão da Ditadura Militar, no qual dava poderes extraordinários ao Presidente da República e suspendia várias garantias constitucionais.

Em maio de 1968 uma greve geral se estabelece na França, rapidamente adquirindo significado e proporções revolucionárias. Teve início com uma série de greves estudantis que irromperam em algumas universidades e escolas de ensino secundário em Paris, após confrontos com a administração e a polícia. A tentativa do governo gaullista de esmagar essas greves com mais ações policiais no Quartier Latin levou a uma escalada do conflito que culminou numa greve geral de estudantes e em greves com ocupações de fábricas em toda a França, às quais aderiram dez milhões de trabalhadores, aproximadamente dois terços dos trabalhadores franceses.

A espaçonave da NASA Apollo 11 realiza o primeiro pouso na Lua em 20 de julho de 1969 e o astronauta Neil Armstrong foi o primeiro homem a pisar em nosso satélite natural.



A mexicana Enriqueta Basilio acende a pira olímpica - Acervo COI





Duração: de 12 a 27 de outubro
Países: 112
Atletas: 5.516

A capital mexicana trouxe um fator novo para os Jogos Olímpicos: a altitude. A localização da cidade, 2.350 m acima do nível do mar, teve um impacto imediato na preparação e no resultado das provas, especialmente no atletismo. Foi um festival de recordes batidos nas provas de velocidade, saltos e arremessos. Enquanto isso, as provas de longa distância apresentaram uma dificuldade extra.
No Estádio Olímpico Universitário, que, em outra novidade da competição, tinha pista de atletismo com grama sintética, o americano Bob Beamon saltou 8,90m, superando o recorde mundial em 55cm. Ele permaneceria como dono da melhor marca do salto em distância por 23 anos. Nos 100 m rasos, o americano Jim Hines bateu o recorde mundial ao se tornar o primeiro homem a oficialmente correr abaixo da marca dos 10 segundos (9s95).
Viktor Saneev, da União Soviética, ganhou o ouro (17,39 m) no salto triplo em uma prova acirrada, que levou o recorde mundial a ser batido cinco vezes por três diferentes atletas. Entre os competidores do épico tira-teima, estava o brasileiro Nelson Prudêncio. Com a responsabilidade de suceder o bicampeão Adhemar Ferreira da Silva, o paulista ganhou sua primeira medalha olímpica, a prata, ao saltar 17,27 m.
Nas provas de longa distância, os corredores do Quênia e da Etiópia, que se preparam também na altitude, aproveitaram a vantagem sobre os concorrentes e conquistaram juntos dez medalhas, todas no masculino, sendo quatro de ouro. O resultado foi inédito, mas não deve ser creditado apenas à Cidade do México. Os corredores africanos de longa distância passariam a dominar as competições olímpicas nos Jogos seguintes.
Também no atletismo, a mexicana Norma Enriqueta Basilio fez história, mas não pelos seus resultados em casa, já que foi eliminada das provas de 400 m, 80 m com barreiras e 4 x 100 m. A atleta, de então 20 anos, foi a primeira mulher na história a acender a pira olímpica. Ela foi escolhida devido ao desempenho de um ano antes, quando conquistou o ouro no Pan de Winnipeg.
Além da prata de Nelson Prudêncio, o Brasil ganhou outras duas medalhas, ambas de bronze. Na classe Flying Dutchman, os velejadores Burkhard Cordes e Reinaldo Conrad conquistaram a primeira medalha do país na modalidade. No boxe, Servílio de Oliveira foi também o primeiro atleta de seu esporte a subir ao pódio pelo país. Outro pugilista fez sucesso em 1968: o americano George Foreman, ouro no peso-pesado, que se tornaria muito popular nas décadas seguintes.
A Olimpíada de 1968 foi marcada ainda por um triste episódio. Em 2 de outubro, dez dias antes da abertura da competição, estudantes que protestavam contra a ocupação militar em uma universidade foram atacados pelo exército mexicano. Os números de mortes são controversos, mas cerca de 300 pessoas teriam sido assassinadas naquela noite, que ficou marcado como o Massacre de Tlatelolco, local da barbárie.

CURIOSIDADES


Cores olímpicas
Os Jogos na Cidade do México foram os primeiros na história a serem transmitidos a cores. O verde e amarelo da bandeira brasileira, no entanto, só seria assistido pela televisão no país a partir da Copa do Mundo de 1970, também no México.

A tocha
Seguiu a mesma rota de Cristóvão Colombo em 1492, quando descobriu a América, e chegou em Vera Cruz, no México.

Cerveja amarga
Pode parecer brincadeira, mas o sueco Hans-Gunnar Liljenwall perdeu uma medalha de bronze no pentatlo moderno ao ser o primeiro atleta detectado em um exame antidoping. O motivo foram as duas cervejas que tomou para relaxar antes da prova.



BARULHENTO PROTESTO SILENCIOSO



Os panteras negras, os americanos Tommie Smith e John Carlos no pódio mais político da história - AP





A mais emblemática manifestação política nos Jogos Olímpicos não foi um boicote, mas, sim, um silencioso protesto no Estádio Olímpico Universitário, na Cidade do México. Após bater o recorde mundial dos 200 m rasos, o americano Tommie Smith ergueu seu braço direito, com o punho fechado. Ele estava descalço, simbolizando a pobreza vivida pelos negros. O rosto foi desviado, e o olhar para baixo evitava a bandeira americana. À sua esquerda, o conterrâneo John Carlos, bronze na prova, fez o mesmo. Em solidariedade, o australiano Peter Norman (prata) prendeu em seu agasalho broches do Projeto Olímpico pelos Direitos Humanos, grupo do qual os velocistas americanos eram membros. Ele pagaria caro por isso.

O gesto era o símbolo dos Panteras Negras, que fora criado dois anos antes para patrulhar guetos contra a violência policial. Essa era uma das faces mais radicais do movimento negro durante a luta pelos direitos civis. O grupo defendia o armamento da população negra, desejava a imediata liberação dos negros encarcerados nos Estados Unidos e o fim da cobrança de impostos para negros, que sofriam as consequências da escravização.

Como era de se esperar, o Comitê Olímpico Internacional condenou a atitude. Para os dirigentes, a mistura de esporte e política, quando feita por atletas em atividade, deveria ser rejeitada. No estádio, foram ouvidas vaias. Em um primeiro momento, a imprensa também criticou a postura dos corredores, embora o tempo fosse reconhecer a atitude de coragem e contestação. Ao contrário do que muitos pensam, Smith e Carlos não tiveram suas medalhas retiradas pela organização. Expulsos da vila olímpica, eles praticamente encerravam ali suas carreiras no atletismo de alto rendimento.

Smith foi o primeiro homem a quebrar a barreira dos 20 segundos na prova de 200 m, quando fez 19s83 naquela noite. Escolhido em 1967 no draft da National Football League, a liga de futebol americano, teve uma passagem sem muito brilho no Cincinnati Bengals antes de se tornar professor universitário, treinando atletas e ensinando sociologia. Carlos conseguiu marcas expressivas no atletismo no ano seguinte, antes de ter uma breve passagem pelo futebol canadense profissional, semelhante ao disputado nos EUA. Em 2011, ainda ativista, ele participou do movimento Occupy Wall Street.

Embora não tenha erguido o punho, Norman jamais seria perdoado na Austrália, que, à época, vivia problema semelhante de preconceito com a população aborígene. Ele foi ignorado por dirigentes e imprensa de seu país, sem jamais ter recebido o crédito pela bravura e solidariedade. Mesmo quando Sydney sediou a Olimpíada de 2000, não foi lembrado. Entregue ao alcoolismo, o australiano morreu seis anos depois. Smith e Carlos jamais esqueceram. Eles carregaram o caixão do companheiro de prova.



Fonte: http://bndigital.bn.gov.br/exposicoes/os-jogos-olimpicos-da-era-moderna/1968-cidade-do-mexico/